Hagia Sophia/ Santa Sabedoria é um lugar com tantos lugares e tantos tempos que não chega uma visita. É actualmente um museu mas funcionou como igreja durante 916 anos e 481 como mesquita.
Não faz sentido fazermos a história do monumento: um guia sobre Istambul, publicações especializadas ou consultas na internet, cumprirão bem esse papel. São as sensações, as emoções, os sentimentos que o lugar nos provocou que queremos partilhar. Visitámo-la três vezes e só nos apropriámos de parte daquele espaço e de parte do seu espírito.
O impacto começa logo à entrada da porta imperial que nos abre um jogo de abóbadas, colunas, arcos por entre os quais se vislumbra o ouro dos ícones: a virgem Maria e o menino, imperadores, imperatrizes, o arcanjo Gabriel… Vertigem é o termo que se pode dizer da sensação que se experimenta quando no centro do monumento olhamos para cima. Respirar fundo será a melhor forma de resistir ao sufoco das alturas, ao impacto da arquitectura, ao olhar fixo das figuras.
Na última visita, detivemo-nos a explorar outros modos de ver Hagia Sophia deambulando pelas naves laterais, percorrendo as galerias superiores. A rampa de acesso é feita de pedras ocres polidas por milhões de passos. Este caminho, iluminado por pequenas janelas, dá-nos a dimensão do tempo e de uma parte significativa da história da humanidade.

Nos átrios das galerias superiores, o olhar é requisitado pelos mármores do chão em que as fissuras feitas pelo tempo escrevem histórias que não conseguimos adivinhar. É das galerias que se abordam de outro modo as colunas, as cúpulas, os painéis, as luminárias.
São os sítios menos visitados, os ângulos mais escondidos, que nos permitem uma aproximação mais íntima ao lugar afastando-nos das imagens e dos conteúdos das reportagens escritas em todas as línguas.
Percebemos que três visitas não chegam para explorar Hagia Sophia.
Manda a sabedoria, mesmo a que não é santa, que regressemos um dia destes.











